A comunicação do imediatismo

Em tempos de algoritmos em tempo real e decisões de negócio a toque de caixa, a comunicação deixou de ser uma construção de médio e longo prazo para se tornar, muitas vezes, uma corrida desorganizada pelo “post do dia”. O imediatismo na comunicação empresarial não é apenas um reflexo da velocidade das redes, mas uma mentalidade que tem levado marcas a decisões estratégicas frágeis — com impacto direto na percepção do público, no posicionamento e, cada vez mais, na rotatividade de agências e fornecedores.

Quando a urgência vira modelo de gestão

A frase “precisa pra ontem” se tornou rotina nas empresas. Porém, o que se apresenta como agilidade, na prática, mascara a ausência de planejamento e direção estratégica. A comunicação passa a operar sob pressão constante, com entregas apressadas, decisões reativas e briefings incompletos — muitas vezes trocando estratégia por execução desenfreada.

Esse ciclo vicioso transforma a comunicação em um produto de ocasião, e não de construção. O efeito é uma avalanche de conteúdos rasos, sem identidade, que geram pouca conexão e muito desgaste.

As marcas esquecem quem são — e o público também

Sem consistência e sem tempo para refletir sobre a mensagem, as marcas se tornam genéricas. O resultado é um público confuso, campanhas desconectadas e um branding cada vez mais frágil. A urgência permanente impede que se construa uma narrativa sólida, o que mina o principal ativo de uma marca: a confiança.

Além disso, equipes internas e externas se veem mergulhadas em tarefas operacionais, sem espaço para criar com profundidade. O resultado? Frustração, retrabalho e, em muitos casos, uma consequência que virou padrão: a troca recorrente de agências.

A rotatividade de agências: sintoma de um problema maior

Uma das consequências mais claras (e perigosas) do imediatismo é a alta rotatividade de agências de comunicação e marketing. Em ciclos curtos — às vezes trimestrais — empresas encerram contratos com fornecedores por “não entregarem o esperado”. Mas o que está por trás desse “esperado”?

Frequentemente, há uma falta de alinhamento entre expectativa e realidade. Espera-se que a agência resolva problemas estruturais com campanhas rápidas, sem planejamento e com pouca verba. A agência é contratada como salvadora, mas sem briefing, sem objetivos claros e sem tempo para entender a marca. Em vez de parceria estratégica, cria-se uma relação transacional, baseada em urgência e frustração.

Isso gera um efeito dominó: cada nova agência entra já sob pressão, com pouco tempo para performar e muito para corrigir. A marca não amadurece, o histórico se perde, e o ciclo recomeça.

Comunicação eficiente exige confiança, tempo e direção

Romper com o ciclo do improviso começa por um reconhecimento interno: comunicação não é mágica, é um processo estratégico. Marcas precisam entender que resultados consistentes vêm de ações planejadas, de investimento contínuo e de relações duradouras com os profissionais que as representam.

É papel das lideranças mudar a cultura do “pra ontem” para uma cultura de visão, clareza e continuidade. Isso significa:

  • Definir metas claras e mensuráveis
  • Estabelecer um calendário comercial eficiente
  • Alinhar expectativas
  • Dar tempo para as agências pensarem, não apenas executarem
  • Construir relações de confiança — com tempo de maturação e aprendizado

A comunicação como construção de valor, não de volume

Quando se trata de branding e posicionamento, velocidade não substitui direção. É preciso sair do piloto automático e construir presença com propósito. Trabalhar a memória de marca e gerar valor para o público exige mais do que campanhas criativas: exige constância, profundidade e clareza estratégica.

O improviso tem limite. A consistência, não.